(Foto: Divulgação)
Como bem explicitamos em Mixtape: A Memory for Life — nome da seção que engloba este texto —, alguns momentos compõem memórias que valem por uma vida inteira. No instante em que a passagem da All Time High Tour pelo Brasil foi confirmada, soubemos que seria uma oportunidade única de construir um desses momentos singulares na vida, na companhia das músicas de Tablo, Mithra Jin e DJ Tukutz.
Depois de mais de trinta shows pela Europa e América do Norte no primeiro semestre deste ano, o Epik High finalmente — a primeira vez real e oficial — chegaria à América Latina, com shows no Brasil, Argentina, Chile, Peru e México, com o nosso país sendo presenteado com dois shows, no Rio de Janeiro e em São Paulo, nos dias 4 e 6 de agosto, respectivamente.
Juntando circunstâncias favoráveis da vida, um pouquinho de irresponsabilidade financeira e uma dose considerável de surto de fã, garantimos ingressos para as duas datas no Brasil, com a certeza que marcaríamos em nossas agendinhas de dias especiais e em nossos corações, momentos inesquecíveis que ficariam conosco para sempre. Falando de Epik High, obviamente estávamos certas.
RIO DE JANEIRO, 04 DE AGOSTO
por Thainá M.
Depois de turistar e me apaixonar pelo Rio de Janeiro — e ir visitar o Cristo Redentor apenas um dia antes do Tablo e do Tukutz —, o fim daquela primeira sexta-feira de agosto quase me fez parecer alguém que sabe curtir normal — e não uma fã em tempo integral e com tendências minimamente obsessivas.
Pela primeira vez na minha curta história com shows internacionais, cheguei depois dos portões terem sido abertos, e carregando comigo uma amiga carioca que seria apresentada ao Epik High em primeira mão. A pouca movimentação em frente ao Vivo Rio nos livrou de filas e ainda nos permitiu tirar fotos fofas e divertidas no painel que foi colocado no hall, após encontrarmos uma amiga da minha cidade que também tinha viajado para o show.
Do lado de dentro, pouco menos de uma hora para início agendado, poucas pessoas já se encontravam no setor reservado à pista comum, que não chegou a lotar. A pista premium já contava com um número maior de pessoas e lotou até o início do show. Com espaço e tempo suficiente, deu para tietar @’s que acompanho no Twitter e me recostar à grade até os mínimos testes de iluminação, que acordaram a ansiedade para finalmente ouvir ao vivo algumas das minhas músicas preferidas, na presença de artistas que eu admiro tanto.
(Vídeo: Arquivo pessoal/Thainá M.)
O início do show ainda parece um borrão para mim. Sabendo da setlist usada na primeira parte da tour, não estava esperando grandes mudanças, então demorei a assimilar que Strawberry — intro do último lançamento deles e que nomeia o EP lançado em fevereiro desse ano — tinha sido substituída por Here — intro de Epik High is Here 下 (Part 2), de 2022. Só me dei conta disso quando comecei a cantar Prequel no automático, para segundos depois estar em êxtase e aos berros, tomando aquilo como algo muito pessoal, apenas por ter passado todos os dias desde o anúncio dos shows esperando para ouvir essa ao vivo.
Apesar da letra pessoal para os três membros e que rememora a trajetória do grupo, Prequel ecoa de um jeito muito especial em mim desde a primeira vez que a ouvi. Os versos me fazem pensar que a conexão entre artista e fã pode sim ser algo muito especial e que, assim como eles estão presentes em nossos momentos, sejam eles difíceis ou memoráveis, nós também estamos lá, presentes como parte de uma trajetória de vinte anos. Isso não é pouca coisa, sabe?
Lembro de ter pedido, meio desnorteada, para que a amiga ao meu lado gravasse o final da música, enquanto eu gritava junto com Tablo um verso que representa o lugar especial que a música deles ocupa em nossos caminhos, por vezes tão turbulentos: when you’re lost, remember, Epik High is here.
Na sequência tivemos Fly e Map the Soul, a segunda sendo responsável por um dos momentos de vibe mais gostosa do show. Apesar de não ter a casa cheia, o trio tem talento, carisma e hits de sobra para compor uma atmosfera única, que envolveu a plateia muito rapidamente, até mesmo quem estava sendo apresentado às suas músicas pela primeira vez. Map the Soul — single do álbum de mesmo nome, lançado em 2009, sob selo próprio e independente — foi acompanhada por um coro entusiasmado e ovacionada no final.
Eternal Sunshine, conhecida principalmente por ser uma faixa coproduzida por Min Yoongi, do BTS, foi recebida calorosamente. Vale dizer que a presença de fãs do septeto, majoritariamente apresentados ao Epik High pelas colaborações e amizade de seus idols com o trio, visivelmente formaram uma boa parte do público tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, o que me deixou de coração quentinho. Acho fantástico quando nossos artistas favoritos conseguem nos apresentar a outros artistas incríveis e que passam a compor parte do nosso acervo musical de forma especial. Eternal Sunshine, em específico, conversa muito com as canções do BTS, ao se debruçar sobre as pressões sociais que nos atingem e causam sofrimento. Os versos cantados em coro quase pareciam uma conversa pessoal, enquanto Tablo e Mithra se dirigiam ao público:
Do you get lonely?
Sick with anxiety?
Can’t trust nobody?
Same here…
A sequência seguinte trouxe apenas hinos: Rosario — dedicada por Tablo a todos os presentes, afinal, somos todos lendas em suas próprias trajetórias —, Burj Khalifa (부르즈 할리파) e NO THANXXX. A energia palpável dos caras se espalhou como névoa densa entre a plateia. Em um palco sem adereços, telão ou qualquer outra ferramenta cenográfica — itens quase obrigatórios na maioria dos shows mundo afora —, a composição da vibe ficava apenas por conta dos três quarentões no palco. Em momento algum, porém, o arranjo do concerto pareceu pouco enérgico, muito pelo contrário. Com uma trajetória de duas décadas, o Epik High não precisa mais provar seu valor, nem mesmo para um público que estava os vendo pela primeira vez ao vivo. Assim sendo, a energia, o talento e a experiência deles foi o suficiente para manter o show em alta vibração, com a plateia de fãs e não fãs respondendo ao bom humor e divertimento dos três, que se apresentavam como três velhos amigos fazendo música juntos e arriscando uns passos de dança só para fazer graça.
Mithra deixou o palco em seguida para Tablo apresentar All Day, sua colaboração com RM. Na ponta da língua do público, a música foi cantada em coro. Na sequência, Mithra voltou ao palco para Rain Song, cuja estrela foi o (falso) vocal do all-rounder do Epik High, DJ Tukutz.
Love Love Love e One vieram em seguida, com muitas interações com a plateia, que seguia respondendo com animação. Tukutz deixou a mesa de DJ e se juntou aos outros, nos apresentando seus passos de break, que nos arrancaram gritos, mas fizeram Tablo e Mithra desmancharem em risadas.
(Foto: Arquivo pessoal/Thainá M.)
Nas pausas para interação com o público, Tablo assumia a dianteira. Ao ler um dos cartazes levados por fãs, aprendeu a xingar em português, o que rendeu um dos momentos mais divertidos da noite. Ao responder um pedido para fazer algum challenge famoso de músicas de K-Pop, Tablo contou que até conhecia alguns — e fez um pedacinho da coreografia de S-Class, do Stray Kids, me fazendo surtar, enquanto Tukutz fazia o passinho famoso de OMG, de NEWJEANS —, especialmente por causa da filha, Haru — a menção à querida fez a plateia explodir em gritos e sons fofos —, mas desconversou com a timidez dele e dos demais membros. Tablo ainda falou sobre o episódio em que os membros demonstraram o desejo, à sua empresa na época, de ter um lightstick com o formato de um dedo do meio levantado. A memória engraçada, compartilhada no Twitter por ele, serviu para que apontasse o “lightstick” sonhado na plateia, feito à mão e em crochê por uma fã. No final do show, Mithra e ele receberam o mimo e performaram com ele no palco.
Antes de seguir com a música, os três assinaram uma camisa do merchandising oficial da tour — Tablo perguntou se preferíamos o nome do país com “s” ou “z”, e atendeu aos gritos do público, escrevendo Brasil — e jogou para a plateia.
Um breve discurso antecedeu uma das canções mais esperadas e mais famosas, Born Hater. Confesso que esse é um dos momentos que ficaram como um borrão na minha memória. Só lembro de pular e gritar muito, especialmente antes de Tukutz vir à frente para cantar os versos finais, originalmente escritos e performados por B.I.
Don’t Hate Me veio em seguida e foi certamente uma das mais cantadas pelo público. Ficou guardada na minha memória como meu momento favorito do show no Rio, principalmente porque pareceu que o trio e a plateia estavam completamente alinhados e a energia chegou ao seu auge.
Sob gritos e aplausos, os três deixaram o palco, mas retornaram, sob mais gritos, para o encore com Catch, Kill This Love e New Beautiful.
Quando se despediram, ainda olhei para minhas amigas sem ter certeza que o show havia mesmo acabado. Parecia que ainda tínhamos fôlego e energia para mais duas ou três canções, e a julgar pela demora das pessoas em dispersarem mesmo após o acender das luzes, todo mundo estava meio assim. Parecia meio surreal que, mesmo com um público reduzido, em uma casa que não estava lotada, o Epik High tivesse conseguido construir um show completo, interativo, enérgico e memorável.
Ao deixar o Vivo Rio, meio anestesiada e tecendo comentários felizes que tentavam colocar em palavras o sentimento acolhedor que tinha ficado no peito, eu sentia que precisava de muito mais. Sentindo a voz falhar em rouquidão pelo esforço em gritar todas as músicas, agradeci a minha eu do passado por ter feito uma loucura de fã, afinal, graças a ela eu ainda teria o show de São Paulo.
SÃO PAULO, 06 DE AGOSTO
por Daniela Seles
(Foto: Arquivo Pessoal/Daniela Seles)
Ainda que eu não seja uma pessoa que faça parte do cenário musical, a música é uma parte fundamental da minha vida e eu, muito provavelmente, não estaria aqui sem ela. A música faz parte da minha rotina. Ela me possibilita entrar em mundos completamente distintos e me permite alcançar sensações inesperadas e surpreendentes. Nesse sentido, ir em shows e prestigiar os artistas que gosto tocando ao vivo é o momento que consigo acessar mais intensamente certos sentimentos e me conectar verdadeiramente com a música.
Ter a oportunidade de assistir um show é sempre um prato cheio para vivenciar esses acontecimentos marcantes e, obviamente, isso se concretizou muito no show de Epik High.
Costumava escutar as canções do trio bem casualmente e nem pensava muito em ir ao show, uma vez que estava querendo poupar dinheiro. Entretanto, eu confesso que comprei o ingresso em um momento de impulso: tinha acabado de sair de um show, do cantor Woodz, quando entrei no aplicativo para comprar meu ingresso para o show de Epik High. E, olhando para trás, acredito que foi uma escolha muito sábia deixar meus impulsos tomarem conta de mim.
No meio da plateia, foi possível ver pessoas de todas as idades vibrando com as músicas do grupo. Todos gritavam, pulavam e cantavam com Tablo, Mirthra Jin e DJ Tukutz. Eu, mesmo estando sozinha no show, já que cheguei mais tarde e Thai estava na grade, me diverti muito. Em qualquer lugar da casa de show era possível sentir a energia e a paixão que eles exalavam. Era impossível ficar parado quando uma nova música começava, assim como era impossível não dar boas risadas dos momentos de descontração entre uma música e outra. Eles me fizeram vibrar muito quando interagiram diretamente com Thai e quando tocaram uma das minhas músicas favoritas da vida. O trio realmente fez um espetáculo incrível no Vibra São Paulo e eu fico muito feliz por ter vivenciado aquele momento.
Epik High me permitiu ter um respiro de felicidade e espontaneidade em meio ao caos da minha rotina; me permitiram acessar um lugar de muito conforto e paixão; eles me deram a chance de escutar uma das minhas canções favoritas ao vivo, mesmo que só tenha sido um trechinho dela e sem ter a presença do RM. Eles me lembraram o porquê gosto TANTO de música e a importância que ela tem em minha vida.
(Foto: Arquivo Pessoal/Daniela Seles)
Assim como Thai já pontuou em seu texto, eu fui uma das pessoas que conheceu o grupo por meio das parcerias que eles fizeram com outros grupos, mas que saíram da casa de show transformadas. Entrei como uma ouvinte casual do trio, mas saí de lá como uma verdadeira fã de Epik High. E, agora que eles sabem o significado de "Saudade", posso dizer com muita certeza: I will saudade you, Epik High.
por Thainá M.
Estávamos em duas representantes da Ode para o show na capital paulista — Dani e eu, Thai — e ainda era manhã de domingo quando cheguei ao Vibra SP para ocupar meu lugar na tímida fila que se formava, já separada por setores e em seus respectivos portões.
Se no show do Rio o lema era curtir normal e não enfrentar filas para dançar na pista comum, em São Paulo a skin seria outra: chegar super cedo, descansar no chão de concreto, regrar a bateria do celular e comprar água para poder usar o banheiro do restaurante mais próximo. Pequenos esforços para garantir o melhor lugar possível, já antecipando que o público em SP seria maior.
A experiência completa da fila foi bem diferente da vivida em um show de K-Pop — como a que contei sobre a passagem do ONEUS pelo Brasil —, a começar pela faixa etária das pessoas presentes, já que em uma breve olhada ao redor ninguém parecia ter menos que seus vinte e poucos. Não havia grande alvoroço e nada de rodinhas imitando passos de dança. Apenas conversas amigáveis e vez ou outra alguma pessoa chegando para oferecer seus produtos artesanais e personalizados.
A primeira pessoa da fila — que também tinha vindo de longe para o show — levava consigo uma bandeira do Brasil — que esteve no palco depois! — e a fez circular entre os presentes, que deixavam recados calorosos e profundos para o trio, uma forma de registrar a gratidão pelo amor e apoio que receberam na forma de versos de música.
Conforme as pessoas iam chegando e a fila aumentava gradativamente, pude registrar diferentes sotaques, que vinham misturados entre os grupos de amigos que tomavam seus lugares atrás de mim. Uma das características que mais gosto de observar em filas de shows é essa capacidade de reunir gente que provavelmente jamais se encontraria em outro lugar e que de repente se vê compartilhando um momento especial, inventando jogos para passar o tempo e se ajudando a fugir do sol.
Logo fui acolhida pelas pessoas próximas a mim e criamos aquele laço típico de filas de show, que se estreita rapidamente conforme as horas passam, a conversa desenrola e as coisas em comum ficam à mostra. Pude contar com a solidariedade e os sorrisos do grupo próximo a mim, enquanto jogávamos adedonha e dividíamos a ansiedade pela hora tão esperada.
Mais próximo da abertura dos portões, fãs se organizavam para distribuir banners e fitinhas vermelhas que nos ajudariam a compor os projetos — que infelizmente não chegaram a ser executados no show do Rio. Recebi brindes fofos e fomos direcionados à fila específica para quem havia adquirido ingressos VIP, que davam direito à entrada antecipada e ao tão esperado Meet & Greet.
Nada de curtir normal. Em São Paulo o lema era ter tudo que se tinha direito.
(Foto: Arquivo Pessoal/Thainá M.)
A experiência de viver uma grade frontal é insana.
No tempo que se seguiu até o início do show, fiquei me perguntando como seria vê-los de tão perto. Como seria vê-los performar Map the Soul bem diante dos meus olhos e possivelmente cruzar o olhar com caras que tanto admiro e respeito. Esses pensamentos me preencheram ainda mais de expectativa e a ansiedade só pôde ser minimamente aplacada graças às conversas completamente sem pé nem cabeça que tecia com minhas novas amigas de fila, grade e memória pra vida.
Quando Here preencheu o Vibra, eu já estava preparada para não perder nenhum mínimo pedacinho do que viria a seguir, torcendo para que meus sentidos não me sabotassem e aproveitassem a melhor visão possível de lendas vivas do rap sul-coreano performando algumas de minhas músicas preferidas da vida.
A setlist seguiu o mesmo caminho do show no Rio e aproveitei para gravar os melhores vídeos que consegui, enquanto me dividia entre gritar as músicas, aplaudi-los e sorrir genuinamente para como os três se divertiam no palco e viviam a música como se fosse a coisa mais simples do mundo a se fazer. Como se não tivessem, com isso, influenciado inúmeros outros artistas e tocado tanta gente ao redor do mundo com seus versos crus e honestos sobre a vida, acompanhados de batidas viciantes.
A maior surpresa da noite veio quando Tablo iniciou, logo após All Day, os versos de Eyes Nose Lips, música que não esteve presente no show do Rio de Janeiro. Fiquei grande parte da música gritando “MEU DEUS!”, sem acreditar que ele tinha nos dado esse presente. Por ter toda a letra em inglês, o público o acompanhou do início ao fim e fez deste um dos momentos mais emocionantes da noite.
(Foto: Arquivo Pessoal/Daniela Seles)
Na pausa para interação com o público, Tablo notou alguns lightsticks improvisados e contou um pouco sobre o tempo no Brasil e como era incrível finalmente ter vindo se apresentar em nosso país. Enquanto falava sobre como seria triste ir embora, pediu para que ensinássemos como traduzir esse sentimento em português. A pessoa ao meu lado — que já havia interagido com ele momentos antes —, recebeu o microfone e pode ensiná-lo a dizer “Eu estou triste”, o que se tornou um dos momentos mais fofos do show.
O que veio em seguida foi um dos momentos mais célebres da minha curta existência na Terra e falo sério.
Ao repetir a frase em português que havia acabado de aprender, Tablo pontuou o quanto achava nosso idioma bonito e o quanto era agradável de ouvir. Aproveitando o momento, sem qualquer pretensão de que ele de fato ouvisse, apesar dele estar abaixado quase na minha frente, disse em inglês que ele deveria aprender a falar “saudade”, uma palavra que é quase uma unanimidade quando se fala na beleza do português brasileiro. O que era para ser apenas um momento fofo entre fã e ídolo, acabou se tornando cômico quando Tablo confundiu a palavra em português com “싸가지”, expressão nada amigável em coreano. Seu ídolo já achou que você estava o xingando? O meu já!
Quando consegui explicar, com a ajuda da amiga ao meu lado, Tablo finalizou o nosso momento mandando um “We will saudade you very much!”. Fofo!
(Foto: Arquivo Pessoal/Daniela Seles)
Caminhando para a parte final do show, antes de iniciar Born Hater, Tablo discursou — ou pelo menos tentou — sobre nossa conexão especial, utilizando nossos fusos horários opostos como metáfora para dizer que esperava que eles pudessem ser o dia para nós, quando nossas noites estivessem longas e escuras demais, como se para muitos naquela plateia o Epik High já não fossem essa exata representação de um feixe de luz em um mundo por vezes tão obscuro, como se já não atuasse como um reflexo ou um reverberar de nossas próprias crises e revoltas, como se suas músicas já não tivessem esse poder de conexão tão especial.
Um momento bonito que, porém, foi completamente bagunçado quando Tukutz adicionou uma trilha sonora de fundo um tanto dramática — Someone Like You, de Adele —, nos fazendo rir e cantar junto.
Nada mais representativo do humor deles no palco do que esse episódio.
Em seguida, o encore pareceu se arrastar enquanto Tablo desceu do palco para interagir diretamente com o público da grade e nos encharcar mais um pouco com a água que eles quase não beberam, mas que faziam questão de atirar em nós de quando em quando, afinal, eles fazem o Waterbomb deles, não é? Lendas autossuficientes.
O show encerrou com aquela sensação de “Come to Brazil” total. Dois shows e não parecia o suficiente. Nem para eles e nem para nós.
(Foto: Arquivo Pessoal/Daniela Seles)
A participação do Brasil na All Time High Tour pode não ter sido a maior em termos de público ou de arrecadação, mas quem disse que isso dita o sucesso ou o quão especial esses momentos foram? Para quem estava no Vibra SP, assim como para quem estava no Vivo Rio, a sensação era a mesma: o êxtase de ter vivido ao vivo a música de três caras que ousaram não se encaixar apenas pelo sucesso, ou se moldar para lotar casas de show — na Coreia do Sul ou em qualquer outro lugar. Fazer músicas honestas para pessoas reais os moldou como artistas célebres, inspiradores de toda uma geração de novos músicos que sonharam e sonham em atingir pessoas como eles fizeram e fazem.
Que sorte a nossa ter construído com eles um pedacinho dessa tour e poder imprimir nossa marca — nossos gritos, nossas palavras, nossas homenagens —, nesses vinte anos — e contando! — de Epik High.
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