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Comunidade K-Popper: Jornalistas Edition

por Tham Sanchis


(Foto: Arquivo Pessoal/Giulia Bressani)


Estamos de volta com a segunda parte de um dos Mixtapes mais legais e que adoramos colocar a mão — e alma! — na massa para fazer ele acontecer, o Let's Go Together! Aqui, vamos a fundo nessa comunidade que se tornou o K-Pop, trazendo não só o caráter afetivo, entre pessoas, mas também o que desejamos levar para a vida, isso é, o que vem antes do K-Pop.


Na primeira parte, trouxemos um pouco do que é investir tempo e coração em realmente criar do zero uma nova comunidade baseada em apetrechos de coleção quando se trata de itens envolvendo música do leste asiático, logo, podendo surgir um sentimento de fazer daquilo seu trabalho: entre pessoas que começam coleção, algumas tomam a frente e se disponibilizam para ser donas e donos de grupo de compras e outras até descobrem a paixão pelo empreendimento, criando lojinhas. Isso é, algo que era um hobby, pode virar seu emprego!


Partindo também desse princípio, fomos atrás de conversar com pessoas brasileiras que trazem notícias e entrevistas com artistas do leste asiático para o nosso convívio, fazendo com que o K-Pop, J-Pop e T-Pop principalmente se tornem acessíveis para todos por aqui também. Dentro de motivações, dicas e como foi e está sendo essa jornada para cada uma dessas pessoas, vocês podem se inspirar, tanto quanto nós quando batemos esses papos, e compartilhar conosco se acertamos quando miramos aqui!


Vem com a gente?


(Foto: Arquivo Pessoal/Isabela Gadelha)


Para alguém que também é apaixonada e estudou Comunicação, foi fácil me ver nas convidadas desse Let's Go Together. A grande maioria das pessoas que perseguem esse caminho e profissão costumam fazer isso com a paixão pela área carregada no coração e realmente se dedicam para o que trabalham. Foi de imensa inspiração saber o que essas seis mulheres trazem para o mundo enquanto jornalistas e pessoas que descobriram o K-Pop durante essa trajetória — contrário ao movimento que imaginei que poderia ocorrer, de haver o contato com a música sul-coreana e descobrir a paixão pela área ao mesmo tempo, todas elas já haviam começado a trabalhar e estudar sobre Comunicação em si antes de esbarrar com esse mundo enorme que é o do entretenimento leste-asiático.


Aqui temos mulheres de 27 a 34 anos, dos mais diferentes gostos e lugares possíveis — desde o Acre, Maceió e São Paulo até Lisboa, em Portugal —, possuindo uma diversidade de experiências que convergem e conversam entre si, mostrando que é necessário ter muita força de vontade e iniciativa para se trabalhar com o K-Pop na área da Comunicação no Brasil.


"Se todo mundo caminhar junto, talvez mais empresas, produtoras de show, olhem com mais atenção e tragam mais grupos pro Brasil."

(Isabela Pacilio, 29 anos)


COMO TUDO COMEÇOU E PRIMEIROS LAÇOS ENTRE JORNALISTAS DA ÁREA


(Foto: Arquivo Pessoal/Gabi Paiva)


Uma vez que a gente pensa no início de qualquer coisa, existem aquelas pessoas que deram pontapés, quebraram barreiras e construíram pontes para que, qualquer que seja o tópico, se expandisse por aí. Quando falamos de conteúdo de K-Pop no Brasil, trazemos alguns nomes que nem estão mais em apenas terras brasileiras, mas também trilhando caminhos para fora daqui.


"O K-Pop entrou na minha vida ali em 2012. Eu já trabalhava com música e show business (entretenimento ao vivo) desde adolescente, basicamente. Eu vim do rolê emo, do rock e tudo mais, e eu estava num momento muito sem inspiração e pra mim isso é uma coisa inconcebível — eu preciso trabalhar inspirada. E a música, a cena que eu estava ali há muitos anos, não estava mais fazendo isso por mim. Uma amiga minha me mandou um clipe de um grupo chamado 2NE1 — que até hoje é o meu grupo favorito — chamado I Am The Best, e ela falou “eu achei isso aqui sua cara!” e eu fui ver e, desde então, eu me viciei."

(Érica Imenes, 34 anos)


Érica Imenes (ou só Eri, também conhecida como Afro K-Popper em suas redes sociais) foi uma das pioneiras quando se trata de falar sobre K-Pop e entrevistar idols aqui no Brasil. Seu longo caminho através do tempo, faz com que a admiração e inspiração nela sejam mais que naturais para quem olha de fora e também tem paixão por transmitir ideias de forma espontânea, madura e consciente.


Atualmente dona da Chimera Media, uma produtora de eventos e assessoria de comunicação criativa, Érica trouxe até o grupo feminino MAMAMOO para o nosso país em 2018. Sendo uma mulher preocupada com o seu legado nessa área, Eri também se questiona sobre isso desde 2019 e se orgulha do caminho que traça até hoje.


"Eu me sinto obviamente muito bem, muito feliz de ter capinado aí muitos caminhos numa época em que a mídia mainstream não abria espaço pra cultura coreana, pra Ásia num geral, nas editorias de entretenimento e a gente foi lá, né, usou o networking, usou as habilidades de assessoria e tudo mais para conseguir mesmo buscar na unha."

(Érica Imenes, 34 anos)


Outra pessoa que foi e é inspiração para muitos outros jovens jornalistas apaixonados pelo leste asiático é Tássia Assis, de também 34 anos e atualmente moradora de Lisboa, que faz entrevistas com idols de forma autônoma para diversas revistas e sites de notícia, principalmente em inglês, que tem o K-Pop como segmento. Tendo já entrevistado vários grupos grandes e não apenas uma carreira, mas também a escrita, impecável, ela também é inspiração para outras jornalistas do ramo, como Isabela Gadelha que assumiu ler algumas entrevistas de Tássia sempre que se sente não tanto inspirada para escrever suas pautas.


Tendo o jornalismo e o design como suas profissões atuais, Tássia começou a trazer para a vida a sua paixão pelo K-Pop através de seus estudos. Algo irrecusável e de grande repercussão é quanto o K-Pop também está virando — se não já virou — um objeto de estudo para quem gosta de ir atrás do que acontece na indústria da música sul coreana, tendo outra pessoa que também participou desse artigo fazendo isso atualmente, a Gabi Paiva.


"Quando eu fiz minha pós-graduação em Indústrias e Culturas Criativas aqui em Portugal, decidi que queria fazer algo relacionado a K-Pop no trabalho de conclusão. Criei uma newsletter chamada K-Pop for Thought e, durante um ano, escrevi sobre diversos temas relacionados à indústria, criei playlists, e entrevistei jornalistas que trabalhavam com K-Pop e que eu admirava. Com isso, eu criei muitas amizades na área, e descobri que jornalismo freelancer era algo que existia e que qualquer um podia tentar."

(Tássia Assis, 34 anos)


Com isso em mente, descobrimos que nada é por acaso. E, como Tássia cita, é super possível criar amizades nesse meio e, assim, perceber o caráter comunitário que é criado dia após dia nesse ramo. Aqui vemos como as novas jornalistas que dão o nome, cara e voz para as plataformas com as quais trabalham, se ajudaram e ajudam até hoje para fazer essa jornada ser mais fácil, divertida e proveitosa.


Aliás, foi ao esbarrar com Isabela Pacilio e Giulia Bressani que Isabela Gadelha, do Acre, descobriu que a paixão dela por K-Dramas e K-Pop poderia ser implantada no seu trabalho na CNN Brasil, onde até pouco tempo, antes de falar sobre esses tópicos, era apenas social media. Agora também produtora do videocast da CNN 'Na Palma da Mari' da Mari Palma, ela diz que entrevistar idols era apenas um sonho para ela e agora também vive isso.


"Eu conversei com elas sobre isso e elas falaram que na Quem elas tinham feito um PPT (apresentação de Power Point) falando “olha só, a gente podia fazer isso”... E aí eu fiz a mesma coisa. [risos] É, eu fiz um PPT, trouxe dados, trouxe tudo, trouxe planos a curto, médio e longo prazo… Fiz tudo, mostrei pros meus pais pra eles opinarem e aí falei [pros meus chefes]: “posso apresentar pra vocês uma ideia?” E aí eles falaram “tá bom!”. Quando minha chefe viu o primeiro slide, que era sobre K-Pop, ela falou “peraí!” [...]"

(Isabela Gadelha, 27 anos)


Isabela e Giulia foram colegas de trabalho na revista brasileira Quem, onde também já falavam sobre celebridades e tiveram o início nessa vida de entrevistar idols de K-Pop lá mesmo, pois depois que se apaixonaram por esse tipo de música em 2018, foram com um sonho, suas habilidades de convencimento e uma apresentação de PowerPoint — que alavanca carreiras — tentar mostrar para seus chefes porque seria legal falar desse assunto lá.


"A gente vendeu o peixe ali, né, falou “ó, isso aqui vai render audiência no Twitter, acho que vai ser um bom tema porque ninguém tá falando sobre”... Então foi uma conversa pra convencer os nossos chefes na época a aceitar essa ideia, [...] a dar uma chance pra falar de um tema que eles não fazem ideia do que é […] e eles deram total liberdade pra mim e pra Giulia [...]."

(Isabela Pacilio, 29 anos)


Tendo também um canal no YouTube chamado Meu Armário Não é Nárnia, Bela Gadelha descobriu essa técnica infalível quando entrevistou ambas Isa e Giulia que bateram um papo super legal sobre como é levar essa vida, que elas também alavancaram e chegaram longe através de todos seus esforços. Hoje em dia, Pacilio trabalha na Billboard Brasil ainda cobrindo entretenimento no geral, entrevistando idols renomados no K-Pop para o site, e Giulia agora trabalha formalmente noutro lugar, mas cobrindo, por fora, entretenimento para o Portal Offstage como colunista e também mantendo seu cargo como entrevistadora.


Não parando por aí, quem também já apareceu no canal de Isabela Gadelha foi Tássia, contando suas próprias experiências num papo super descontraído, e ali descobrimos como é importante nos manter conectadas na internet e fazer amizades em qualquer ramo. Não apenas por conta de ajudas, mas também para ter com quem trocar experiências, conversar sobre os bastidores dessa vida de jornalista e, acima de tudo, conhecer pessoas diferentes, mas que podem ter muito em comum com você — não são assim que são criadas as melhores amizades? É bom demais poder torcer por quem a gente gosta e anda junto com a gente.


(Foto: Arquivo Pessoal/Isabela Gadelha e Isabela Pacílio)


Foi assim, inclusive, que Bela conheceu Gabi Paiva, que diz ser uma das pessoas mais incríveis que ela já conheceu. Gabi, assim como Bela que saiu do Acre, saiu de Maceió para começar uma vida em São Paulo e trabalha atualmente escrevendo sobre cultura pop para o Hugo Gloss e faz mestrado na USP voltado para estudos sobre K-Pop. Apesar disso, ela diz já ter feito de tudo antes de chegar onde está: desde jornalismo factual à edição de vídeo para internet, Gabi deu seu sangue, suor e lágrimas para chegar onde está hoje.


"Então, assim, eu tive passagem por absolutamente tudo até voltar pra redação que é onde eu tô hoje. [...] E aí agora eu tenho [...] muito mais contato com música, entretenimento… Mas também faço factual, faço tudo, enfim. Jornalista é uma personalidade bombril [...], pau pra toda obra!"

(Gabi Paiva, 28 anos)


Apesar de não ter um grupo favorito de K-Pop, Gabi se diz apaixonada pela área e remarca como é importante falar do K-Pop quando se trata de música e entretenimento no cenário em que estamos. Seu encantamento pela comunidade que foi criada em torno disso é genuíno e ela traz isso não apenas nos seus estudos, mas também em suas redes sociais, mesmo não sendo muito fã delas — Gabi sabe o valor que o "ser cara de pau" tem nesse mundo!


Ainda assim, ela é aficionada por música no geral, sendo grande fã de Jessie J e Bruno Mars, e deixa em looping seus álbuns favoritos de K-Pop na sua casa, como sua trilha sonora principal: Bambi do Baekhyun, Perfume da unit DoJaeJung (NCT) e LILAC da IU é o que vai estar tocando, com certeza, se for visitá-la! Já nossas outras convidadas, são donas de um gosto impecável, sendo fãs dos mais variados grupos como BTS, SEVENTEEN, SHINEE, EXO, GIRLS GENERATION, RED VELVET, BLACKPINK, TWICE, MONSTA X, ATEEZ, 2NE1 e A.C.E.


EXPERIÊNCIAS INICIAIS, FORÇA DE VONTADE E MERCADO DE TRABALHO


(Foto: Instagram Tássia Assis/@_tassia_a)


Mas como seria essa profissão de entrevistar idols? É apenas isso? Fácil assim?


Como bem disse e repito, até pelas vozes das nossas convidadas: não é mesmo! Foi necessária dedicação prévia em vários tópicos como a escolha da carreira, o gostar verdadeiramente de K-Pop a ponto de querer cobrir esse assunto num país tão vasto como é o Brasil, pedindo que haja uma iniciativa tremenda para trazer isso a veículos maiores, e, claro, um mergulho profundo na história da música sul coreana — aliás, é impossível se falar do que não se sabe, certo?


Mas antes de falar sobre isso, fazemos um super adendo a qual é a sensação de estar em contato com esses idols tão influentes que fazem parte de nossas vidas. Aquele nervosismo pré-entrevista que imaginamos, o que acontece durante elas, o pós... É claro que não podíamos deixar de saber como foram as primeiras entrevistas delas.


"Oficialmente, minha primeira entrevista de K-Pop foi com o grupo 24K, em setembro de 2018, por e-mail. Mas a primeira vez que falei diretamente com um idol foi com o Eric Nam, por telefone, no início de 2020, quando ele estava com show marcado por aqui antes da pandemia. Eu conhecia o trabalho dele, mas não me diria uma super-fã na época, e como entrevistar famosos já era meu dia a dia há mais de 6 anos, honestamente foi mais um dia de trabalho pra mim [risos]."

(Giulia Bressani, 29 anos)


Indo mais uma vez na contramão do que muita gente imagina, algumas primeira entrevistas de quem está no mundo da música em si como jornalista são bem impessoais, permanecendo como uma troca de mensagens por e-mail. Diversos artistas e grupos têm suas empresas para fazer essa comunicação com o externo acontecer e muitas vezes as perguntas escolhidas por quem produz são passadas por um pente fino antes de chegar nos integrantes do nosso grupo preferido, isso é, as empresas possuem um certo radar para assuntos que não devem ser abordados, sendo um deles, até mesmo, sobre a saúde mental de quem está nessa indústria, diz Isabela Pacilio.


Além da Giulia, quem também teve sua primeira entrevista por e-mail foi Gabi, que diz ter sido um momento desafiador, pós pandemia, em que aquele mal jeito de não saber como abordar o artista pessoalmente foi o que acabou fazendo essa primeira acontecer dessa forma. Gabi, ainda assim, diz que foi uma das melhores experiências de sua vida quando aconteceu a sua primeira entrevista "cara a cara" com o grupo NCT DREAM e contou tim tim por tim tim para gente como foi estar no mesmo lugar que eles.


"Quando foi na hora, eu tava muito tranquila. E acho que essa tranquilidade passou um pouco, assim, sabe? Na hora [...] tava todo mundo muito confortável. Foi um dos trabalhos mais divertidos que eu fiz na minha vida. Os meninos são pessoas incríveis!"

(Gabi Paiva, 28 anos)


Enquanto isso, Bela teve sua primeira entrevista com WOODZ, também conhecido como Seungyoun e Luizinho, lá por volta das 3 da manhã — devido ao fuso horário — e teve uma experiência parecida com o que todas relatam. Existe um nervosismo pré-entrevista que praticamente se dissipa na hora que ela realmente tá pra acontecer, como se elas ligassem seu modo profissional, jornalista, assim que entram em contato com seus trabalhos. Perco um pouquinho aqui a postura para dizer: extremamente admirável!


"O manager dele já entrou antes pra conversar comigo e tirar algumas dúvidas. E o manager era muito doce, muito fofo, então, o que eu tava de nervosa, ele conseguiu dissipar tudo. Quando o WOODZ chegou eu já tava tranquila [...], então foi muito bom, foi uma ótima experiência [...] de primeira vez… E logo depois teve a primeira vez que foi pessoalmente que foi o grupo KARD. E aí eu fiquei nervosa também porque foi a primeira vez pessoalmente, e aí já dá um… [expressão de susto]."

(Isabela Gadelha, 27 anos)


Tássia, assim como Érica, diz que já havia entrevistado um artista fora desse eixo antes, por telefone também, mas foi uma experiência surreal quando conseguiu confirmar sua primeira entrevista ao vivo com o NCT 127 em Londres, em 2019. Ela confirma que também ficou muito nervosa e apenas relaxou, ficando confortável, quando a entrevista foi acontecendo, não deixando de citar que até hoje é difícil de acreditar que essa foi a primeira entrevista de K-Pop dela.


Para Eri tudo foi muito tranquilo! Ela além de fissurada por Rock, também trabalhava com esse gênero antes, entrevistando artistas e despejando seu amor também por ser apresentadora, que ela diz ser uma de suas primeiras paixões. Já quando se deparou com o mundinho do K-Pop, sua primeira entrevista, pelo que ela se lembra, foi numa coletiva com o trio Lunafly e, logo depois, a primeira "ao vivo e a cores" com o gigante BTS em 2014. Naquela época, poderia ser apenas um pequeno passo, mas hoje vemos como Eri também foi gigante quando começou sua carreira junto com esses que também quebram barreiras até hoje.


Isa Pacilio diz que nem consegue lembrar também qual foi sua primeira entrevista, talvez por ter feito tantas, mas lembra de uma que foi bem no início, também sendo com um integrante do KARD, o BM. Depois disso vieram suas entrevistas com o ITZY, que ela assume ter ficado nervosa também por ser um grupo que ela gosta muito, KAI do EXO, Super Junior, Jackson Wang do GOT7, NCT 127 e muitos outros que também foram capa da Quem de quando ela estava lá, completando mais de cinquenta entrevistas feitas para a revista. Haja trabalho!


(Foto: Arquivo Pessoal/Erica Imenes)


Agora precisamos rebobinar um pouco para entender como funciona a demanda de produção de conteúdo de K-Pop aqui no Brasil. E longe de mim dizer que é falta de interesse da grande mídia de cobrir o assunto, mas talvez seja exatamente isso. Aliás, fica fácil ignorar o que ainda não explodiu, certo? Ou simplesmente ignorar que esteja cada vez mais famoso e apenas surfar em certas ondas quando elas estão mais favoráveis...


Ingenuamente, acabamos saindo do pressuposto de que existe demanda para cobrir todos os assuntos, de todos os cantos do mundo, aqui no Brasil, por quem trabalha em grandes veículos de entretenimento, só porque nosso país é "grandão", mas não é bem assim que funciona... Também podemos pensar que esse hype todo em cima de K-Dramas, principalmente, esteja melhorando a visibilidade da Coreia do Sul, mas isso é algo muito recente e novo que está saindo até um pouco do controle... Ah, o tal do efeito manada...


Mas lembra lá no início que citei que foram as próprias Isabela's e Giulia que foram procurar seus superiores para convencê-los de falar do que elas gostavam, o K-Pop, em seus respectivos veículos? Que até então são os maiores que cobrem o assunto aqui no Brasil? Pois é, o que acontece aqui é que essa demanda que a gente acha que existe, que alguém superior a nós criou, é, na verdade, criada por nós, que gostamos do assunto.


"É difícil abordar o K-Pop, assim, no jornalismo tradicional, no Brasil. Você tem vários perfis, várias fanbases de notícia, você tem vários blogs sobre isso, mas… Na mídia tradicional, na grande mídia, Globo, por exemplo, dificilmente você vê algo de K-Pop e que não seja estereotipado, né. [...] Mas eu entendo também porque é um produto estrangeiro... E o K-Pop, no Brasil, ele compete com o Sertanejo e Rap e Funk. Acho que nos Charts, por exemplo, da Billboard, se você for ver o Hot 100, cara, não tem uma música estrangeira… Assim, deve ter a Ariana Grande com o disco novo e olhe lá! Então é um mercado muito competitivo. [...] Eu acho [que é uma coisa muito nova], apesar de ser antiga. Já tem bastante tempo o K-Pop, no geral, mas ainda tem muito pra conquistar."

(Isabela Pacilio, 29 anos)


"[No] K-Pop você tem que ter muita responsabilidade para falar sobre. [...] Você tá falando de uma cultura que tem vários preconceitos interligados à ela e que é extremamente fácil você cair em um deles se você não tem um estudo. Se você não tenta entender, se você for superficial, você vai cair. [...] Todo mundo que eu falo, assim, de jornalista, fala tipo assim... Que não, nunca pensou em falar sobre K-Pop: “ali eu nunca quis tocar porque eu sei que é um terreno delicado”, sabe? “Ali eu sei que tem que ter responsabilidade”. E tem que ter muita."

(Gabi Paiva, 28 anos)


Em suma, a iniciativa, o primeiro passo que é dado por quem tem paixão e interesse sobre o assunto foi e é o que o cria a demanda desse meio. Infelizmente, ainda nem existe um mercado de trabalho voltado para o K-Pop, visto que todo trabalho feito para fazer o conteúdo do leste asiático girar é voluntário e por paixão. Trazer ele para grande mídia é um feito enorme para divulgar e incentivar mais pessoas a procurarem sobre essa cultura de uma forma consciente e acessível. Sorte a nossa de termos pessoas engajadas e interessadas verdadeiramente no assunto fazendo ele tomar novas proporções!


(Foto: Arquivo Pessoal/Isabela Gadelha)


Algo ainda a se pontuar, é como é importante elaborar esse conteúdo num linguajar fácil para chegar em novas pessoas, para que assim haja o despertar do interesse nelas. Quem falou disso para a gente um pouco foi a Isabela Gadelha, que diz que o K-Tudo CNN é um trabalho quase extra que ela faz: a chefe dela incentiva todos da equipe a ter um projeto individual nas redes sociais — por conta de já ser a plataforma que eles usam mesmo — para que o trabalho fique mais leve.


"É uma preocupação que nem todo veículo precisa, porque se eu tô num veículo que já é só sobre cultura Pop, a pessoa provavelmente já tem um pouquinho ali do background, mas… Tem uma idade que já reconhece alguns termos, mas eu nunca vou escrever uma coisa tipo “bias” ou “ultimate” na CNN. Vai ler um senhor de 70 anos e falar “que que isso?”."

(Isabela Gadelha, 27 anos)


Tudo isso acarreta em fazer a gente pensar que trabalhar com o que a gente ama, no final, é sim muito recompensador. Que todo esse movimento de trazer o K-Pop à luz é algo fantástico e que nutre a alma de quem ama transmitir esse conhecimento. Mas ninguém nos prepara para o combo do "descubra o que você ama e deixe isso acabar com você", como diz Érica.


Ao mesmo tempo que foi super natural para todas as nossas convidadas acoplar esse gosto à vida e trabalho delas, também é necessário colocar o pé no chão e lembrar que, se está trabalhando com isso, são de fato muitas horas e muita disposição em jogo para fazer acontecer o conteúdo que elas trazem. Aquilo que poderia ser só um hobby, é a tentativa de um sistema capitalista de fazer a gente trabalhar com o que seria mais fácil de se dar.


"A gente precisa parar de romantizar um pouco, né. Porque quando a gente é muito apaixonado por aquilo que a gente faz, existe esse envolvimento emocional que pode vir a ser muito tóxico. Porque quanto mais envolvido emocionalmente a gente está com aquele trabalho, menos a gente consegue diferenciar o que é trabalho, o que é vida pessoal, o que é hobby… E isso pode ser muito tóxico, isso pode ser… Pesado. Tanto para saúde física quanto para saúde mental. Eu sei disso porque eu tinha uma dificuldade muito grande de diferenciar trabalho."

(Érica Imenes, 34 anos)


"É preciso estar preparado para decepções quando se trabalha com algo que idealizamos e nos importamos, porque a realidade é sempre muito diferente. Também há o risco dessa paixão virar uma responsabilidade, e deixar de ser algo prazeroso. É uma linha muito fina que eu ainda estou aprendendo a navegar também."

(Tássia Assis, 34 anos)


São tantas variáveis que a melhor forma de lidar com isso é sabendo a hora de concentrar e a de desconcentrar. Assim como qualquer trabalho, talvez o que mais pega aqui seja colocar limite e não glamourizar nenhum cenário. Estar consciente, buscar conhecimento e estudos, no fim, é o que devemos priorizar ao falar sobre uma cultura que não é a nossa. E, por isso, não poderíamos deixar de ir mais fundo nesse último tópico: estudos.


DICAS DE POR ONDE COMEÇAR E ESTUDOS SOBRE A CULTURA


(Foto: Arquivo Pessoal/Isabela Pacilio)


Pensando nessa nova onda de pessoas apaixonadas tanto por escrever quanto por cultura asiática, que gostariam de mesclar esses dois assuntos num só também, conversamos sobre dicas que, como jornalistas, elas dariam para quem tem esse desejo de mergulhar nesse mundo do trabalhar com entretenimento voltado para Ásia. Nada fora do comum, várias concordaram que deve-se priorizar o estudo e a procura de referências no assunto para evitar cair em preconceitos e fetiches. Conversar e debater sobre isso se torna algo importante não apenas pela visibilidade, mas também para trazer consciência e conhecimento de um grupo ainda muito racializado na sociedade que é o povo asiático.


"Dica sobre profissionalização é muito sobre buscar referências que te deem uma instrução responsável, isso pode ser, assim, uma profissionalização numa faculdade, seja um curso tecnólogo, seja um bacharelado… Estudar é sim muito importante, seja no estudo formal de cursos, extensivos e tudo mais […], é importante procurar essas referências de pessoas que estudam sobre a sociedade, sobre a Hallyu. Se você vai falar sobre uma cultura que não é sua, saia da caixinha."

(Érica Imenes, 34 anos)


Sendo também parte de um grupo racializado, Érica, uma mulher negra, diz que sua troca com idols e a comunidade de diáspora coreana também sempre foi muito respeitosa, partindo do princípio que ela nunca chegou crua ao ter esse contato com eles, levando em conta sempre etiqueta, educação e os valores que se tem na Coreia. Ela deixa explícito que além de estudar conteúdo mesmo como a história do país e tudo mais, é importante conhecer a cultura como um todo, os seus costumes, e tentar sempre levar isso em conta antes de qualquer coisa.


"Escrevam muito, construam um portfólio, e leiam muito também. Leiam sobre coisas que vocês gostam e sobre coisas que não gostam. Tenham curiosidade sobre o mundo e sobre vocês mesmos, sobre o que lhes dá vida e sobre suas paixões. Ser jornalista é ser curioso, afinal."

(Tássia Assis, 34 anos)


Um ponto crucial, que já vimos que transpassa todo o assunto, é o criar conteúdo por si mesmo, isso é, criar portfólio. Aqui, a curiosidade é o que prevalece, pois é ela que faz a gente ir atrás de produzir paralelamente ao ato de estudar, já que uma coisa move a outra: sabe aquele sentimento de querer passar para frente um conhecimento que a gente acabou de adquirir e percebe o quão importante ele é? Então, existe muito e é mais que normal querer fazer isso meio que imediatamente, mas é sempre bom priorizarmos o estudo, mesmo que tenhamos que ler mil artigos, ver um trilhão de vídeos e conhecer outros pontos de vista — e vai dizer que essa não é uma das partes mais legais? Conhecimento é tudo!


Além disso, temos outros tipos de estudos relevantes para quem quer trabalhar ou falar sobre cultura pop coreana. Quando falamos disso, lembramos logo da barreira do idioma e como poderíamos transpassá-la para buscar contato com eles, isso é, seria necessário pelo menos um pouco de conhecimento de inglês e muita paciência para mandar milhares de e-mails e solicitações de amizade no Linkedin ao tentar fazer essas ligações acontecerem, é o que diz Isa Pacilio, que também fala que a cada 40 e-mails enviados, havia praticamente apenas uma resposta no meio deles.


"Acho que o inglês perfeito não é necessário, mas o básico, sim, saber se comunicar. Pode ler as perguntas, não tem problema se tiver que voltar, ler de novo, se enrolar… [...] Inglês é minha primeira dica, o Linkedin é a segunda… E é, paciência, ter paciência! Acho que são as 3 dicas. E fazer muitos contatos. [...] Seguir jornalistas que falam sobre isso na gringa, quem fala sobre isso aqui, seguir os perfis de música, [...] e veículos de música na gringa e aqui… [...] E aí, tipo, as pessoas se conhecem, sabe, e todo mundo quer se ajudar, então… No final das contas, é só você ter paciência e saber fazer parcerias."

(Isabela Pacilio, 29 anos)


"Conheça as diferentes áreas em que você pode trabalhar — desde o jornalismo até produção de shows, por exemplo — e vai atrás de descobrir quem são as empresas que fazem isso, que cursos você pode fazer, como começar a montar um portfólio e currículo. E também sair da bolha e estudar a história do K-Pop, entender o mercado, como ele se formou e onde está hoje. É uma área que exige conhecimento específico, muito network e um pouco de cara de pau também [risos]. Mas é uma área em constante crescimento e que cada vez mais precisa de profissionais que conheçam o meio, mas também sejam qualificados."

(Giulia Bressani, 29 anos)


Passando o ponto de estudos e disposição para querer se jogar nesse mundo através dos recursos que temos para fazer isso acontecer, vem tópicos ainda mais subjetivos e profundos, aliás, o quão preparados estamos para falar na internet? Gabi também era uma pessoa que preferia estar numa cabaninha, no meio do nada, longe da vida online, mas uma vez que descobrimos que é estando e fazendo nosso trabalho nas redes sociais que conseguimos chegar onde queremos, percebemos que o caminho é não ter medo de falar — marcar nossa presença aqui é reforçar que tudo que falamos tem seu valor.


"[...] o conselho que eu dou é que se você quer ser jornalista, você precisa aparecer. Você precisa aparecer! Sabe? Não tem como [...] Sorte têm os jornalistas, sorte têm os escritores que conseguem ter as oportunidades de ficar na sua colina, ficar na sua cabaninha, sabe? Mas… A gente precisa aparecer. As coisas começaram a acontecer comigo porque na pandemia eu criei um blog com um amigo e ali eu entendi..."

(Gabi Paiva, 28 anos)


"Então eu acho que vou ser mais realista e falar: não desista, vai atrás. Mas eu vou também ser [ainda mais] realista: todos os jornalistas de K-Pop com quem eu já conversei, [...] fazem porque eles têm a iniciativa, porque eles amam e não é necessariamente prioridade ou algo que aquele veículo realmente quer cobrir, entendeu? Então tem essa lutinha, sim, pra gente conseguir fazer essas coisas, não vem tão naturalmente…"

(Isabela Gadelha, 27 anos)


E por mais que não queiramos nem colocar a palavra "desistir" em nosso vocabulário, é preciso deixar explícito que vai ter vezes que essa vontade pode aparecer. Ao se tratar com a realidade, vêm os sentimentos mais imprevistos e precisamos lidar com eles. Entretanto, assim que vemos que vale a pena correr atrás dos nossos sonhos, talvez a opção de desistir não venha à mente tão rápido assim — ou vai embora tão rápido quanto veio.


Chegando ao fim, também reforçamos a ideia de manter seu leque aberto: por mais que a internet seja feita, hoje em dia, de conteúdos rápidos e fáceis para leitura breve e vídeos com mil cortes e flashes e jogos de câmera super ágeis para manter o foco desse tipo de público, que precisa disso para se manter focado em qualquer conteúdo com que esbarra, devemos priorizar o nosso jeito de transmitir os nossos pensamentos. Claro que existe a adaptação de conteúdos para diversos meios — como vídeos para YouTube, já que é uma plataforma própria para isso —, mas existe também a possibilidade de focar no que você é melhor em fazer, como aqui na Ode, que amamos escrever!


"Eu adoro blogs e acho que deveriam voltar a ser mais populares, sim. Precisamos de opiniões diferentes, estilos de escrita diferentes, pontos de vista diferentes. E é muito legal quando se cria uma comunidade em torno disso. Hoje em dia muita gente tem medo de expressar suas reais opiniões para não levar hate, o que é totalmente válido, mas eu gostaria que as pessoas aprendessem a ser mais tolerantes ao invés disso."

(Tássia Assis, 34 anos)


Foi a vontade de dar voz para quem a gente acha que tem muito a incluir que fez essa nossa seção nascer e vemos através de toda essa conversa como é importante ter essa troca, afinal, por mais que haja o caráter informativo — e extremamente necessário —, o compartilhar experiências faz tudo ser mais enriquecedor. Faz a vida ter mais cor e renova a vontade de nutrir esse sentimento de curiosidade que todo jornalista tem na veia!


Sendo um assunto longo, o "falar sobre K-Pop para o Brasil e todos seus vieses" não acaba por aqui. No meio de iniciativa, responsabilidade, estudos, cultura, coragem e tudo mais, o que vemos também é a persistência, é encontrar o seu jeito de fazer e fazer aquilo até dar certo, e, assim, ver um caminho se abrir para você.


Deixamos aqui, inclusive, essa discussão aberta. Você também tem essa vontade de escrever e falar sobre cultura do leste asiático? Como você faz? Ainda não começou? Esse artigo te ajudou? Conta para a gente! Vamos adorar saber 😉

131 visualizações2 comentários

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2 Comments


Evellyn Torres
Evellyn Torres
Jul 22

Amei o artigo!! Acompanho o trabalho tem tempos da Giu, das Isas e da Érica, sou fã hahaha e agora irei acompanhar o trabalho de todass! Obrigada pelo texto maravilhoso e pelas entrevistas, aprendi muito e sigo me inspirando para seguir nesse ramo. 💞 Respondendo a pergunta no final, sou jornalista e voluntária em um portal de cultura asiática (K4US) já cobri alguns shows, atuei em entrevistas e me sinto a vontade escrevendo sobre o que gosto e criando esse portfólio e experiência. Espero um dia trabalhar ao lado de vocês💜

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An Ode To
An Ode To
Jul 22
Replying to

Evellyn, ficamos muito felizes em saber que gostou do nosso artigo! Agradecemos demais pelo carinho e incentivamos que você continue nesse caminho. Temos certeza que toda sua dedicação e estudos vão fazer tudo valer a pena. Inclusive, estendemos o convite para escrever com a gente quando quiser! Fazemos essa ponte ser maior pois sabemos como é importante dar voz às pessoas que tem verdadeira responsabilidade com esse conteúdo, que já sentimos que você tem. Mais uma vez, obrigada e boa sorte na sua jornada 💙

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