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Comunidade K-Popper: Collectors Edition

Atualizado: 4 de jul.

Escrito por Thainá M.

Revisado por Tham Sanchis

(Foto: Arquivo Pessoal/@1402KDY)


O caráter comunitário que o ‘ser fã’ carrega em si é inegável. Partindo de um interesse ou de uma devoção em comum, fãs se encontram e se conectam — de forma online ou offline — em grupos cuja dinâmica constrói traços de identidade, de reconhecimento no outro e de partilha daquilo que se tem em comum. Essa característica — tão facilmente compreensível para quem é fã, mas uma verdadeira incógnita para quem não experimenta obsessões — se ramifica em nichos onde as relações se tornam ainda mais estreitas e com uma peculiaridade que não está presente no conjunto completo da comunidade de fãs. Nossa nova seção, Mixtape: Let’s Go Together — título emprestado dos nossos queridos do PENTAGON — tem por objetivo se debruçar sobre esses nichos presentes na gigantesca comunidade de fãs de K-Pop, aprender mais sobre eles e sobre as pessoas que os vivenciam e os constroem. Para a nossa estreia, adentramos o mundo dos colecionadores e colecionadoras, e entre itens raros, estantes cheias de álbuns e DVDs, pilhas de photocards e encomendas de merchandising, vamos conhecer um pouco sobre as motivações e as peculiaridades de quem investe tempo, dinheiro e afeto em itens de seus grupos e ídolos preferidos.


Vamos com a gente?


POR QUE COLECIONAR? MOTIVAÇÕES E PECULIARIDADES DE COLECIONADORES DE ITENS DE KPOP


(Foto: Arquivo Pessoal/@puppbin)


Há quem diga que são o exemplo perfeito do descontrole monetário e o terror do planejamento financeiro. Se você está ativamente na internet, circulando e interagindo no meio de fãs de K-Pop, em algum momento certamente passou pela discussão recorrente que envolve o hobby de colecionar itens oficiais. Quem não coleciona parece não compreender o que está por trás da magia de adquirir um photocard raro, item aleatório daquele DVD que está esgotado nas lojas oficiais, ou pagar um valor relativamente alto por um photocard de broadcast, aquele entregue somente para fãs presentes em determinados eventos ao vivo. Afinal, você não pode simplesmente imprimir essas fotos em casa?!


A resposta? Um glorioso não.


Colecionar, dentro da comunidade de fãs de K-Pop, parece ganhar alguns elementos extras que reúnem as pessoas em uma espécie de subcomunidade que, enquanto compram, vendem e trocam, compartilham suas motivações e paixões, ainda que não envolva o mesmo grupo ou o mesmo idol. Apesar de existirem diferentes formas de colecionar e diferentes aspirações em cada coleção, cada collector — como são comumente chamados internet afora — é capaz de reconhecer em outro colecionador ou colecionadora os motivos que os fizeram começar uma coleção, é capaz de compreender o sentimento difícil de explicar que se tem ao folhear o binder¹ completo ou a euforia de conseguir um item prioritário. As motivações são diversas, mas o sentimento que paira as explicações parecem ser os mesmos, senão, extremamente parecidos ou que se completam em falas diferentes.


“Eu me sinto muito ligada com os membros que eu coleciono. Por causa da coleção, porque eu fico mais por dentro das coisas deles. Acho que cria uma proximidade e eu acabo mostrando um pouco do meu amor, sabe? Pra mim, colecionar é mostrar um pouco do meu amor por eles, da forma que eu posso.”

(Clara, 28 anos)


“Durante a pandemia, a coleção era meu principal lazer. Passava o dia todo pensando em coleções, assistindo vídeos, gravando e editando os meus próprios para o meu canal, recebendo encomendas...”

(Lucas, 23 anos)


Além de ser um passatempo, colecionar envolve motivações extremamente passionais. O amor pelo ídolo, o prazer em contribuir com os números de vendas do grupo favorito, a possibilidade — ainda que mínima — da proximidade que vem por meio de um item autografado ou de uma fancall² sorteada. Todas essas motivações, que são apenas algumas entre tantas, se somam para construir uma ponte entre o fã e o grupo ou idol favorito, fazendo com que o hobby ganhe dimensões de reciprocidade, como uma forma de transbordar o afeto recebido de quem está tão distante e por vezes parece inalcançável.


A relação com a coleção muda em cada pessoa, mas a nuance sentimental prevalece, inclusive sobre a financeira. Coleção é investimento? Parece que o caminho não é bem esse. Ainda que seja possível reunir uma boa quantidade de dinheiro com a sua coleção, esse montante dificilmente será o mesmo ou maior que o valor investido. São raros os fãs que iniciam essa jornada com esse pensamento. O apego emocional que se desenvolve com os itens são mais preponderantes nesse meio, atuando por vezes como um escape dos problemas diários e das preocupações da vida adulta. Não há tristeza estrutural ou estresse com o trabalho ou com os estudos que resista diante do prazer de ter nas mãos o seu photocard favorito, ou a alegria de encarar por alguns minutos a sua página favorita do binder, ou ainda, a euforia ao abrir um pacotinho com um photocard que foi trocado com uma querida do outro lado do país e que vem com cartinha e mimos fofos.


“Toda vez que eu penso na Ryujin e pego um photocard dela, fico alegre. Besteira, mas real.”

(Flávia, 24 anos)


“O sentimento de abrir uma encomenda é muito bom. É uma coisa diferente, né? Por exemplo, quando você abre uma encomenda de um card, muitas vezes vem o quê? A cartinha da pessoa que te mandou, brindezinhos — e não é nem pelo valor econômico dos brindes, mas pelo carinho, pela atenção. Cada pessoa embala de um jeito diferente, tem detalhes diferentes na embalagem, e eu acho que abrir isso é muito legal. Eu sou uma pessoa que gosta muito de coisas visuais, coisinhas bonitinhas, então coleção, pra mim, atinge muito esse ponto.”

(Daniela, 25 anos)


Todas essas peculiaridades compõem as motivações para colecionar e mantêm o passatempo como um hábito vívido, dinâmico, de troca de afetos não somente com o idol mais amado, mas com quem é capaz de compreender essa relação e a constrói junto, criando uma verdadeira comunidade de trocas não apenas de itens, mas de hábitos, interações e inspirações.


COMUNIDADE COLLECTOR: HÁBITOS, INTERAÇÕES, TROCAS DE AFETOS E DESAFETOS

(Foto: Arquivo Pessoal/@rryuvia)


Colecionar envolve manter uma atuação quase constante no interior da comunidade collector — especialmente se você estiver começando. Muito raramente se inicia o processo de compra dos itens de forma individual e autônoma. Geralmente, alguma GOM — sigla em inglês para Group Order Manager, pessoa que organiza e/ou atua como mediadora de compras internacionais — estará envolvida e com elas vêm as famosas CEGs — sigla em português para Compras em Grupo —, forma mais vantajosa de comprar alguns itens oficiais em outros países. Por conta dessa dinâmica, a interação no mundo collector é um requisito básico e acontece de inúmeras formas. No Twitter e no Instagram, é comum que se mantenha contas dedicadas exclusivamente à coleção, por onde as vendas e as trocas ocorrem e onde é possível compilar as provas — os chamados feedbacks — de que você é uma colecionadora ou um colecionador confiável. Isso porque, sem um aparato jurídico específico, as transações desse tipo estão sujeitas a golpes que, infelizmente, não são incomuns. Um dos pontos negativos mais citados entre collectors, os golpes acontecem inclusive entre pessoas onde a confiança já foi estabelecida, o que tensiona as relações e aumenta a necessidade de provas de que as trocas ou vendas serão feitas de forma honesta.


Em meio a essa teia de interações, aproximações acontecem, encontros são realizados e amizades se estabelecem. Pessoas cujo o hábito de colecionar é um passatempo comum, descobrem inúmeras outras interseções capazes de criar laços difíceis de serem desatados. Um dia você está trocando um photocard ou vendendo um álbum para uma pessoa, um tempo depois ela está conseguindo para você um item prioritário na sua lista de desejos e vocês estão trocando pacotinhos com mimos e presentes. No próximo show do grupo favorito que vocês têm em comum, estarão juntas na fila e a foto clássica será junto dos photocards expostos em frames com decoração combinando. Essa sequência de acontecimentos adoráveis é muito comum na comunidade collector e é o principal motivo de identificarmos esse nicho como uma verdadeira comunidade, cuja partilha estabelece identificações entre seus membros.


“Conheci tanta gente boa e querida no meio collector! Uma das minhas melhores amigas conheci quando fui trocar um card do Jimin do BTS com ela e descobri que ela estava começando a gostar de Stray Kids. Grudei no pé dela pra ajudar ela a se afundar mais ainda, e hoje estamos aqui com 2 aninhos de amizade e o Stray Kids como grupo UTT dela também!”

(Júlia, 24 anos)


“Sinceramente, por mais que eu ame a sensação de receber os cards, conseguir às vezes algum card mais barato do que o normal ou a adrenalina de abrir as caixas das CEGs, o que eu mais gosto nas coleções são os amigos que eu faço. Cada jornada colecionando cada grupo me trouxe pessoas incríveis e que sou muito amigo. Amo quando viajo para algum show e posso conhecer eles pessoalmente. Inclusive, vendendo os cards em CEGs eu pude conhecer pessoas maravilhosas que tive a honra de conhecer presencialmente!”

(Lucas, 23 anos)


“Colecionar me trouxe pessoas incríveis e, além disso, conheci gente de todo tipo e toda nacionalidade. Aprendi muito também!”

(Flávia, 24 anos)


As relações iniciais que ocorrem entre as pessoas — de ajuda, de compartilhamento, de identificação ou inspiração — e que, posteriormente, se tornam relações de amizade, atuam como um dos pilares desse nicho. Talvez os itens raros sejam os amigos que fazemos pelo caminho… E para além do meme, existe uma verdade incontestável entre quem participa da comunidade e teve a sorte de encontrar com quem compartilhar não apenas um hobby, mas o ‘ser fã’, a euforia das obsessões e o amor compartilhado pelo grupo favorito e pelo ídolo inspirador.


Obviamente, nem tudo são boas histórias para se contar e as interações nem sempre são as mais afetuosas do mundo. Colecionar pode ganhar contornos competitivos quando se fomentam padrões de coleção — seja pela beleza, pela quantidade ou pela rapidez com que se completa uma wishlist.


Colecionar é um passatempo caro. Não é possível manter uma coleção de itens oficiais sem investir uma boa quantidade de dinheiro e, além disso, uma coleção precisa de cuidados e manutenção, o que envolve ainda mais gastos com sleeves protetoras, binders que não danifiquem photocards etc. Isso significa que nem sempre é possível completar a sua coleção em um curto espaço de tempo, a não ser que se tenha uma boa reserva financeira. Além disso, a cada comeback, turnê ou data especial, são mais itens colecionáveis à venda e o descontrole financeiro pode ser um perigo latente.


É possível, então, colecionar sem ser engolida ou engolido por hábitos perigosos? Lembrar que a coleção é um hobby e que um hobby é para ser divertido é um norte capaz de manter o passatempo como algo saudável. Coleções nem sempre são comparáveis. Cada fã constrói sua coleção com base em gostos pessoais, possibilidade financeira e afeto e essas variáveis são únicas para cada pessoa. Ademais, ter em mente seus limites bancários é um desafio constante entre quem coleciona. O consumismo é uma realidade social em qualquer comunidade, mas deve ser rejeitado em um passatempo tão afetuoso. Saber seus limites é cuidar da sua coleção e de você.


“A dependência com a coleção é algo que tenho que aprender a lidar. Muitas vezes me privei de gastar com outras coisas para que pudesse comprar um item raro. É difícil lidar com a realidade de que nem tudo está ao nosso alcance e não é por não conseguir ter tantos itens quanto outra pessoa que minha coleção não é linda, sabe?”

(Júlia, 24 anos)


“Nesse processo eu aprendi que mesmo querendo colecionar tudo, eu posso respeitar caso eu não goste tanto de um card ou caso seja um valor que na hora eu não ache que esteja valendo a pena pagar. Por mais que eu goste muito de colecionar, preciso pôr limites, porque no final do dia é uma foto, é um item que me traz alegria, mas não posso deixar que isso dite a minha vida, sabe?”

(Lucas, 23 anos)


COLEÇÃO, INSPIRAÇÃO E ESTILO DE VIDA

(Foto: Arquivo Pessoal/@tycerejinha)


Colecionar, dentro da comunidade de fãs de K-Pop, carrega um grande senso estético. Ainda que não seja uma constante entre colecionadores e colecionadoras, certas peculiaridades visuais são uma realidade incontestável na comunidade collector. Toploaders³ decorados sob determinado tema ou paleta de cores, binders personalizados com adesivos, chaveiros e capas com colagens de diferentes estilos estão por todos os lugares e são expostos como importante traço de coleções e que tornam o hobby mais divertido, interativo e em consonância com outros passatempos que envolvem decoração e journaling, por exemplo. Essa particularidade das coleções de itens de K-Pop certamente são inspiradas pelo próprio senso estético que está presente no gênero musical. Para além da música, o K-Pop é extremamente visual e dita modas e comportamentos mundo afora, e entre as pessoas que colecionam isso não é diferente.


No hábito de compartilhar suas coleções online, fãs prezam não apenas pela aparência dos seus itens, mas pela composição de um ambiente esteticamente agradável que seja uma extensão da beleza da coleção. Em vídeos de binder tour — onde colecionadores e colecionadoras mostram suas coleções completas de photocards — mesinhas decoradas no maior estilo Pinterest se tornaram inspiração e modelo de organização para muitas outras pessoas na comunidade de fãs. Em uma época em que minimalismos dominam a estética de decoração, fãs que colecionam dispensam a ideia de que poucos elementos em fundo branco e cinza são o ápice do design, e abusam de glitter e cores, inclusive, com grande influência da moda dos anos 2000.


(Foto: Arquivo Pessoal/@puppbin)


Dessa forma, colecionar passa a inspirar diferentes maneiras de se expressar criativamente. Nos atos de decorar, arrumar e organizar, fãs descobrem novos hobbies e novas formas de interagir entre si, o que movimenta a comunidade e dinamiza as relações, criando peculiaridades estéticas e comportamentais que se espalham entre as pessoas. Bullet journal, corte e colagem, decoração com adesivos, itens de miçangas e edição digital são alguns exemplos de hobbies que são compartilhados a partir do ato de colecionar.


“Eu sempre amei journals e escrever diários. Sempre fui muito apaixonada por papelaria e gostava de decorar a minha mesinha. A coleção me abriu portas pra conhecer mais estilos e aprender outras formas de expressar essa criatividade, me ajudou muito a manter uma rotina de sentar, escrever sobre meu dia e decorar em volta pra deixar esteticamente agradável.”

(Júlia, 24 anos)


“Ao colecionar cards você acaba fazendo novos hobbies, como decorar/personalizar. Fazer amizades e decorar/personalizar junto coisas referentes a K-Pop têm sido pontos extremamente positivos.”

(Nathaly, 19 anos)


COLLECTORS E O EMPREENDEDORISMO A PARTIR DE UM HOBBY

(Foto: Arquivo Pessoal/@sichengland)


Diante de distintas expressões criativas, o meio collector se tornou um ambiente fértil para o desenvolvimento e criação de variados produtos artesanais e formas diferentes de empreender. Junto com o hobby de colecionar, passatempos adjacentes se tornam uma possibilidade de oferecer serviços ou produtos e fazer uma renda extra. As habilidades ou expertises desenvolvidas se tornam um diferencial e movimentam não apenas a comunidade de fãs, mas impulsiona um mercado que se baseia em originalidade e trocas imaginativas no meio coletivo.


Belly — 19 anos, paulista — sempre se considerou criativa e, na vontade de ter um produto diferenciado, quase sempre decidiu personalizá-lo por si mesma. Na busca por binders que fossem maiores que os convencionais e bonitos ao seu gosto, passou a tentar criá-los com seu próprio design e modelo. O que deu certo se tornou um negócio aperfeiçoado, que hoje é oferecido como um produto artesanal totalmente único e personalizável. Além do negócio com os binders, Belly também possui uma loja especializada em adesivos decorativos, a Belly Studios. Apesar dos modelos internacionais ainda serem os mais famosos, a iniciativa de Belly demonstra como a comunidade tem se interessado por produtos personalizáveis, com designs únicos e que carregam identidade, além de todo o cuidado e carinho que um produto artesanal agrega.


“Trabalhar com o público collector é incrível, pois além de super engajados eles adoram consumir coisas sobre os ídolos deles! Acredito que é uma área muito rentável. Para produtos nacionais, o público acaba sendo mais dividido. Infelizmente a produção nacional e em pequena escala acaba sendo um pouco mais cara do que a produção internacional em massa e isso desmotiva os consumidores a comprarem com a gente, porém, temos vários diferenciais que empresas muito grandes acabam não tendo, e isso atrai o público!”

(Belly, 19 anos)

(Foto: Arquivo Pessoal/@1402KDY)


Seguindo quase a mesma lógica inserida dentro da comunidade collector, Nathaly — 19 anos e tocantinense — começou a colecionar itens de K-Pop em 2021 e alguns meses depois surgiu a Sweet Angel Store, loja especializada em chaveiros de resina totalmente únicos e personalizáveis. A possibilidade de decorar binders com chaveiros e outros itens decorativos a motivou a continuar investindo no negócio, que ganhou clientes fiéis entre colecionadores e colecionadoras. Sua estratégia para ganhar espaço em meio à concorrência dos produtos internacionais é manter a pesquisa para trazer novas ideias, modelos e gerar novos interesses no meio.


“Quando eu vi que dava pra decorar o binder de forma fofa com chaveiros e artes que faço na loja, acabou que fiquei mais motivada ainda para continuar. Levou um certo tempo para as coisas darem certo, mas com persistência e várias tentativas acabou dando certo e eu fiquei bem conhecida. Isso me motiva todos os dias a criar modelos novos e continuar com a coleção e com a loja.”

(Nathaly, 19 anos)


COLECIONAR E SER FÃ: PERTENCIMENTO E PARTILHA

(Foto: Arquivo Pessoal/@jaejiway)


O senso de comunidade entre fãs não é novidade. Os sentimentos que unem um fandom são altamente perceptíveis, ainda que se interaja pouco nos ambientes de trocas entre fãs, de forma virtual ou presencial. Entre aqueles e aquelas que colecionam itens relacionados aos seus grupos e idols favoritos, esse sentimento por vezes ganha certo teor performático, estético, visualmente simbólico. Ao sair para tomar um café com amigas colecionadoras, cada uma leva em seu toploader decorado ou holder fofinho o photocard do ídolo favorito, como se isso simbolizasse que seus membros mais queridos estivessem ali consigo, partilhando um momento especial de troca de afeto e de reconhecimento no outro.


O compartilhamento entre fãs que colecionam vai além das trocas e vendas de itens, podendo até mesmo se transformar em uma doação enorme de seu tempo e trabalho, para trazer ao país, de forma mais facilitada e segura, itens colecionáveis que são mais difíceis de se encontrar por aqui. GOMs são personagens centrais nessa dinâmica e muitas vezes seu trabalho árduo começa apenas para ajudar amigos e amigas a aumentarem a coleção da melhor e mais vantajosa forma possível. Lucas — carioca, 23 anos — começou a organizar CEGs com amigas próximas, para dividir valores de importação ao comprar no exterior e hoje envia cerca de cinquenta a sessenta pacotes oriundos dessas compras mensalmente e já chegou a receber quase setecentos photocards em um mês. Trabalhos como o de Lucas exigem extrema responsabilidade, mas também um grande senso de comunidade que contribui de forma essencial para o movimento de produtos relacionados a K-Pop no Brasil e ajudam muitas outras pessoas que colecionam.


“Sempre fiz pela vontade de ter caixas chegando, produtos diferentes... Achava um máximo. Mas depois que fui aumentando o número de itens e de caixas, fui recebendo mensagens de pessoas que compraram comigo, me agradecendo por conseguir tal item, ou por ter sido uma CEG tranquila e aquilo me deixava bem feliz, de conseguir ajudar e ainda ser algo que de certa forma é prazeroso pra mim. Gosto de receber, separar e embalar, e ainda ter elogios? Quem não gosta? [Risos] É uma boa sensação!”

(Lucas, 23 anos)


(Foto: Arquivo Pessoal/@lucaskollection)


Essas dinâmicas tão únicas fazem o ato de colecionar e ‘ser fã’ uma união que mistura inúmeras formas de partilhar e trazem a sensação de pertencimento à nível coletivo que se desenvolvem em espaços — sejam eles quais forem — que permitem a criação de traços de identidade e que formam parte importante na vida de quem vivencia essa comunidade, que pode até mesmo ser um lugar de passagem — afinal, colecionar pode parar de fazer sentido amanhã e tudo bem —, mas que imprime afeto, aprendizagem, criatividade, oportunidade e amor em cada pessoa que experimenta essa partilha. Coisas que quem não vivencia obsessões jamais vai entender.


Por isso, a Ode tem a alegria de demonstrar muita gratidão pelas pessoas que contribuíram para a criação deste artigo. Pessoas queridas que vivenciam suas paixões e obsessões de forma inspiradora e que nos inspiraram a aprender e partilhar ainda mais. Belly, Clara, Dani, Flávia, Juju, Lucas e Nath, um ode à vocês!


E você, leitor ou leitora, também coleciona? Se identificou com algum traço do texto? Conta pra gente! Vamos amar saber!


 

¹Espécie de fichário ou pasta com folhas para armazenar photocards ou outros itens colecionáveis.

²Chamada de vídeo de fã com o ídolo, geralmente sorteada entre as pessoas que compram álbuns em determinada loja oficial.

³Frame de acrílico geralmente usado para proteger e/ou expôr photocards.


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