Em qualquer lugar, fãs enfrentam desafios para viver o sonho de compartilhar um momento especial com a arte de seus ídolos. Alguns mais, outros menos, seguindo a lógica de mercado que, infelizmente, envolve com seus tentáculos todas as áreas, inclusive a da música.
Como consumidores dessa indústria, por vezes nos vemos diante de situações que mudam completamente o cenário ideal que desejamos para nossos idols. Felizmente, a arte é subversiva e desafiadora e, mesmo quando duvidamos que o desejado encontro ídolo-fã possa acontecer, o amor pela música vence algumas batalhas e nos proporciona a realização de um sonho.
Depois de algumas dessas batalhas, as membros do ARTMS vieram ao Brasil, no dia 17 de setembro de 2024, para celebrar suas vitórias com música, e a nossa convidada especial, Gios, contou em detalhes sobre esse momento especial, que recebeu até bênçãos da Lua.
por Gios
Cheguei um pouco mais tarde no dia do show, porém, com o coração quentinho em meio aos 16°C marcados no relógio da cidade daquela terça-feira. Era um início de noite que já deixava a Superlua aparente, o que aumentava a expectativa desde a fila que antecedeu o momento de abertura dos portões do Terra SP (Capital, Zona Sul), já com a empolgação de OURII — nome do fandom — que em momento algum deixou cessar a essência Orbit — de abraçar as adversidades e os bons momentos com a mesma criatividade, paixão pela música e total entrega ao forte conceito do grupo.
Ao chegar, tive uma sensação familiar a de atualizar o feed quando se faz parte desse fandom: maravilhoso me deparar com um público tão comprometido com o tema! Pista e camarotes repletos de referências que alternavam entre a trajetória das garotas do mês — em referência ao formato de apresentação das membros do então LOONA —, trocas de presentinhos e instruções para os eventos do show, lightsticks alternados entre coroas e arcos, bandeiras LGBTQIA+ por todos os lados, looks inspirados em diversos episódios do LOONAVERSE e do etéreo MV de Virtual Angel.
Eu mesma não pude deixar de homenagear as membros com o uso de itens nas cores que inicialmente as representava no look, assim como muitos mais. Essa produção do público, de maneira geral, não passou despercebida pelas próprias idols (principalmente Jinsoul, Kim Lip e Choerry), que depois se surpreenderam com os novos membros do ODD EYE CIRCLE, conforme elas brincaram, com os uniformes de estudante que as representam desde o princípio das promoções, vestidos por diversos trios de fãs na plateia.
O clima de antecipação que eu sentia foi vividamente amplificado por todos ao meu redor. Na última hora a anteceder o show, foi fácil sentir uma imersão nas memórias sobre a trajetória do grupo e no longo caminho percorrido até que o dia desse encontro finalmente fosse possível. Com a espera, as conversas de fila fizeram parte da experiência junto ao cantarolado apaixonado que reverberou em cada faixa do DALL (Devine All Love & Live), primeiro álbum do grupo nesta configuração, que compôs também a maior parte da setlist.
Pude acessar com carinho os sentimentos direcionados a elas durante estes anos, a empatia e o apoio diante das glórias, mas também de todas as dificuldades enfrentadas e, enfim, do recomeço conforme a visão criativa de cada uma delas. A linda sensação é a de vitória de “uma de nós” ao vê-las fazendo o que fazem de melhor ao vivo e construindo uma comunidade tão sólida no caminho, com a esperança e a tranquilidade que as mensagens do projeto sempre me trazem.
url e Birth, a primeira e a última faixa do álbum DALL, abriram o show. A segunda foi lançada como o primeiro single pre-release, após ganhar o primeiro lugar no Event Gravity, concurso para definição de canções favoritas — realizado para que OURII também fosse parte da construção do novo projeto. Uma vez eleita como a favorita dos fãs dentre as opções, o tema de renascimento é carregado por uma estética sombria e marcante, tão singular entre os lançamentos mais recentes, que retrata a melancolia entre amores e términos e, mesmo relatada como um desafio para as membros, se tornou também símbolo de uma ponte entre todos os percalços mais recentes e o recomeço que marca este novo capítulo da história.
Logo de cara, enquanto se apresentavam, o ARTMS demonstrou uma animação especial para aquela noite, conforme dividiram suas impressões sobre a participação da plateia como um todo, que prontamente cantou a música do início ao fim, em resposta ao anseio tão prolongado e ao encantamento de enfim ser possível apreciá-las ao vivo. Heejin também compartilhou conosco que era o seu retorno ao Brasil depois de tantos anos, se referindo ao tempo que morou no bairro do Bom Retiro, e ainda que finalmente parte da sua família poderia prestigiá-la.
Foi nesse primeiro momento que eu senti algumas lágrimas formarem enquanto validava o pensamento de que finalmente estava realizando este sonho. Para mim, algo muito importante sobre acompanhá-las por tantos anos é perceber de tempos em tempos o quanto somos todas pessoas com idades próximas, com referências tão similares, mesmo com as raízes e culturas baseadas em continentes diferentes. A partir da honestidade e delicadeza dos assuntos que elas conseguem abordar com cada aspecto de sua arte, as obras parecem, além de um diálogo profundo entre pessoas amigas, um veículo para amplificar a mensagem que faz do grupo uma espécie de porta-voz da experiência humana de ser jovem e buscar alcançar o que mais se deseja.
As garotas seguiram com a intercalação entre as performances e vídeos que gravaram com conteúdos descontraídos e leves, de photoshoots temáticos a brincadeiras e conversas sobre as expectativas para a turnê, o que para mim reforçou esta sensação de estar em um ambiente seguro entre queridas, o dia em que o “Vamos marcar!” finalmente saiu dos planos para a ação.
The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, Flower Rhythm, Distress e Butterfly Effect contaram com cenários vibrantes, convidativos a uma viagem para uma dimensão muito única, conforme os elementos cósmicos compunham o ambiente e a resposta dos OURII, que vibravam a cada killing part da coreografia, sem deixar de cantar por completo.
Em sequência, a Odisseia pelo tempo: o VCR que facilmente arrancou suspiros e até mesmo lágrimas de saudade daqueles que as acompanham desde o início ou que têm gosto por toda a obra, com gravações sobre os dias de debut de cada uma. Indicou-se assim o início do segundo bloco do show, direcionado às apresentações solo das membros e ao sub-grupo ODD EYE CIRCLE, com performances que pareceram me conduzir pela linha do tempo que elas gostariam de mostrar, do quão longe puderam caminhar ao longo destes aproximados 7 a 8 anos.
Ao iniciar com Haseul — que provavelmente é minha bias e após o show se consolidou um pouco mais nessa posição —, Plastic Candy foi uma certeza que os vocais etéreos nos embalaram com muita ternura e potencial por alguns minutos. Let me in (소년, 소녀), em seu momento, contou com uma maré verde de luzes de lightstick e coro dos fãs em uníssono impressionante, que se equiparou aos microfones da artista, quase que em uma espécie de hino.
“The moon rises
And I am becoming you
We were so different
But my heart
Is now being colored with you
This girl is a boy’s girl”
E nesse clima de euforia, ela também se empolgou e compartilhou trechos acapella de Rain 51db e de Sonatine com o imaginário das belas vivências que as membros do LOONA 1/3 nos coloriram com a produção. Ao meu redor, muitos tinham um semblante de surpresa, quase como se não pudessem acreditar também nessa energia tão honesta e nostálgica e ainda assim vibrante que se criou. Já eu, com meu prolongado anseio por essa cena, não conseguia deixar de gritar junto sobre o quanto estava me apaixonando mais por tudo aquilo e por ela a cada segundo.
Quando Haseul deixou o palco, muito brevemente se iniciou o vídeo que veio introduzir a próxima integrante.
Confesso que eu costumo evitar qualquer informação sobre setlist do show até que chegue o momento certo. Apesar de não ter problema algum com spoilers em outros tipos de arte, como em filmes, séries e livros, existe algo muito satisfatório sobre escutar os primeiros sons de uma faixa ao vivo e adivinhar qual é ou não, me surpreender com a maneira que o artista irá se expressar. Com o ARTMS, dessa vez, só pude fugir parcialmente das informações prévias, mas mesmo assim, não contei com todas as surpresas que as garotas prepararam para nós.
Heejin, dentre todas as membros, sempre teve uma persona “melhor amiga da sua amiga”, ou “a girl’s girl”, de alguém confiante e confidente que por diversas vezes conquista a narrativa de um ambiente pela sua aura energética e cativante. Com isso em mente, considerei que não importava a canção que ela resolvesse apresentar — entre o mini-álbum solo K ou seus sucessos no LOONA — com toda a certeza seria poderoso e mudaria vidas (ou pelo menos a minha).
Então quando iniciou o primeiro “Hey (Hey) You (You) I don’t like Your Girlfriend…”, que inclusive se integrou perfeitamente ao core do grupo, a teoria se provou real e as reações mais genuínas de identificação foram desbloqueadas com sucesso: ali os mais novos e mais velhos sabiam exatamente o que a Avril Lavigne falou em 2007 e o que a Heejin quis nos lembrar, tantos anos depois. A versão rock e em inglês de Algorithm também entregou um toque pessoal dela, que sempre gostou de incorporar guitarra (e violão) às suas performances.
Outro momento memorável foi o surgimento do ODD EYE CIRCLE no palco com Je Ne Sais Quoi — a vibe de synth pop, groovy, cheia de glamour, graciosidade das vozes e movimentos de Jinsoul, Kim Lip e Choerry que tantas vezes coloriu o meu mundo sinestésico nos fones de ouvido. Ao vivo, a performance imersa em todas essas qualidades se consolidou como um dos meus momentos preferidos da noite. Air Force One também foi muito bem recebida e a melodia principal pintou o espaço em frisson.
Com a reunião das 5 membros, iniciou-se um bloco mais comunicativo em que as garotas compartilharam suas impressões, como o vídeo de entrevista sobre momentos chave da tour e aprendizados que passaram a carregar. O que mais lhes chamou atenção foram os lightsticks diferentes, a paixão por gritar — palavra que a Heejin achou fofa — e a habilidade em cantar todas as canções que ressaltaram, inclusive, que fomos únicos nessa proeza. Na troca de elogios, brincadeiras e gestos carinhosos, as performances seguintes buscaram principalmente a interação, com o domínio do espaço e a busca por essa troca com Orbit. Apresentaram assim a versão cover de Cruel Summer, seguida de Stylish e Satellite (originalmente do LOONA).
Nesse ponto restavam poucas, mas emblemáticas canções para finalizar o álbum DALL: Candy Crush, Unf/Air, Air e Sparkle contaram com adoráveis trocas entre elas, poses e encenações que interpretavam as canções, abraços, e no geral, já era notável o clima de despedida. Para estas canções, OURII também preparou diversos projetos para presenteá-las. Balões, serpentinas e luzes coordenadas foram amplamente distribuídos nas filas e proporcionaram um show à parte, para retribuí-las.
Quando comentaram sobre a Superlua e naquele momento ter iniciado o eclipse parcial previsto, todos — inclusive ARTMS — solicitaram Eclipse (이클립스), em português e em coreano, o que Kim Lip, impressionada, prontamente atendeu e em sua versão acapella do refrão. Acompanhada pela legião de apreciadores, ela dançou e eternizou a sorte a favor de todos os presentes nesse dia, que até mesmo a natureza agiu a nosso favor. Para mim significou demais fechar este ciclo com a canção que, no passado, em 2018, fez eu me tornar tão fã deste universo que somente estas artistas poderiam dar vida!
Com a apresentação de Virtual Angel em meio às despedidas e promessas de retornarem assim que possível, o sentimento foi claramente mútuo, “I'll be there for you when your wings break, letting go of you, that's a heartbreak”. O VCR de agradecimento trouxe a mensagem de que, além de apreciarem a jornada e os momentos criados, o projeto terá ainda muitos passos para dar junto a OURII.
Quase que em uma brincadeirinha, as 5 integrantes se despediram inúmeras vezes antes do retorno para o encore de Hi High que, mesmo agora lembrando após semanas, me causa arrepios tamanho o nível de engajamento de todos os presentes. A vibração pela alegria de cantar e dançar essa música com elas pela primeira vez.
E quando pensamos que realmente tinha acabado, Haseul rapidamente trouxe mais um tópico à tona, que por questões de segurança não seria possível realizar o evento de gravação de vídeos nos celulares dos fãs. Apesar de contarem imediatamente com a nossa compreensão, logo Choerry perguntou como a decisão nos fazia sentir e, antes que sequer fosse possível elaborar o que ela quis dizer, “I’m so bad!” que invadiu o encore, a intro de So What pegou a todos nós.
Pela última vez na noite, me peguei gritando todas as partes que sabia com muita gratidão por esse momento e convicta de que assim como cada Orbit, OURII ou simpatizante que pode comparecer para compartilhar esse momento poderá concordar: o próximo encontro com as garotas da Lua, mesmo que ainda esteja a combinar, será garantido.
Você também foi a esse show? Como foi sua experiência? Conta para a gente aqui embaixo! Vamos amar saber!
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